Um encontro para o sábado a noite

Eu poderia simplesmente ir a um bar. Solteiros vão a bares, não vão? Depois de anos em um relacionamento que eu pensava que seria para sempre, eu me encontro em uma situação um tanto quanto desconfortável: Estou solteira. Entretanto, o problema não é o meu status, mas a minha resolução. Para ser mais clara posso confessar que eu não sei o que é ser solteira desde 1991.

As meninas falaram que certas coisas continuam exatamente do mesmo jeito. As carícias embaixo da mesa, os jogos de sedução e o “mentir para impressionar” ainda se encontram no topo da lista das situações mais corriqueiras na vida dos solteiros. No entanto, com o avanço da internet e a expansão dos sites de relacionamento, eu ouvi falar que hoje em dia é muito mais fácil de se conseguir um encontro do que em 1991. Será mesmo?

Um dos meus males é a curiosidade, então sem pensar duas vezes entrei no primeiro site de relacionamento que o google indicou. Para preservar certos aspectos, vamos chamá-lo de “O imperador”.
Depois de cadastrar meus dados, escolhi uma foto que no meu ver era bonita e atraente. Respondi algumas perguntas pessoais e fui automaticamente redirecionada a um pequeno jogo de sedução. O jogo em si era fácil e divertido, uma foto aparecia e você respondia um sim (eu quero conhecê-lo) ou não (não estou afim); resumindo é o jogo de sedução tradicional de rua, exceto que você está no conforto de sua casa.

Passados cinco minutos de jogo eu já começava a me perguntar o porquê de estar fazendo aquilo. Lembro-me dos bate papos por telefone, eram tão divertidos; eu sempre me acabava de rir quando no meio da conversa um engraçadinho colocava um som alto fazendo todo mundo se calar ou mudar de sala. Oh, bons tempos. Mas não adianta pensar neles agora, o tempo passou e a nova tendência em encontros é “O imperador”, então se concentre nas fotos e clique até o infinito.

“Quando essas fotos vão parar?” – Pergunto-me desesperada querendo ir na cozinha petiscar alguma coisa. Será que ainda existe aqueles bate papos de texto pela internet? Pelo que eu me lembre eles eram bem solicitados também. No entanto o serviço do imperador é melhor porque tem fotos, ninguém merece ir a um encontro às escuras com alguém que você conheceu deliberadamente pela internet. Além disso eu já escutei umas histórias bem macabras sobre esses encontros; não, é melhor continuar aqui, pelo menos eu posso ver o rosto da pessoa.
Duas horas se passaram e eu não sei a quem culpar; o imperador ou eu por ter começado tudo isso. Porque diabos ninguém quer me conhecer? Vai ver ninguém está online no momento; ou estão todos ao redor de uma mesa de bar, paquerando e se divertindo.

Plim!

Ai meu Deus! Uma mensagem, finalmente! Deve ser bem daquele loirinho do começo, ou aquele moreno de duas fotos atrás. Vamos lá, você tem uma mensagem… Ler.

“Para ler suas mensagens você precisa adquirir o plano premium”.
Quer saber… Solteiros ainda vão a bares, não vão?

Celular, o novo órgão do corpo humano

A cada dia que passa nossa sociedade se torna mais e mais individualista. O que era para ser avanço tecnológico, agora se tornou uma interferência digital. Eu digo isso porque a cada segundo eu percebo que a nossa sociedade entra mais e mais em um vício que para certas cabeças é impossível de se desapegar.

A necessidade da inutilidade se torna cada dia mais gritante; não só na realidade Brasileira, mas também em questões mundiais. O que antes era visto como apenas um acessório, agora é tratado como uma droga; um vício que se tornou tão comum que nem mesmo a medicina ousa a se intrometer.

Eu poderia falar de muitos outros objetos, mas hoje decidi tomar parte de apenas um: O celular.

Comercializado no meio dos anos 80 e popularizado nos anos 90 e 2000, o telefone celular surgiu para suprir a necessidade de mobilidade em questões de comunicação; o que de fato aconteceu. Entretanto, como o ser humano não se contenta com o básico, novas versões e novos rumos foram tomando formas com o tempo.

Depois da primeira (1G), da segunda (2G) e da terceira geração (3G); os telefones celulares se tornaram mais do que simples aparelhos comunicativos; eles agora são parte do corpo humano. É praticamente impossível sair de casa sem ele. Se você for ao supermercado e não levar o celular, sua mente vai se perder em pensamentos e isso poderá provocar um curto-circuito no seu cérebro, o que pode te levar a uma asfixia e em certos casos, ânsias e desmaios.

O que eu acho mais engraçado nisso tudo é que ás vezes as pessoas esquecem que, no Brasil, o celular não tem nem ao menos 40 anos. Ou seja, é uma invenção jovem. Diferentemente dos relógios e até mesmo do rádio.

Várias pessoas quando me visitam se surpreendem com o fato de que eu ainda utilizo uma secretária eletrônica e um telefone fixo. Sendo que eu não me lembro do dia em que um telefone fixo e uma secretária eletrônica deixaram de ser úteis. As pessoas hoje estão tão hipnotizadas em um mundo infestado de chips e telas, que elas se esquecem que produtos e serviços analógicos ainda existem e são práticos do mesmo jeito que antes. O problema é que hoje em dia ninguém quer utilizar algo que foi inventado antes dos anos 90; até porque para a maioria deles os anos 90 foi a muito tempo atrás.

Eu reconheço que o advento tecnológico nos trouxe inúmeros benefícios; o problema é que eu também consigo enxergar os problemas que vieram com ele. O telefone celular que antes era usado para falar, hoje faz tudo menos falar. O objeto que foi criado para suprir uma certa necessidade, agora é usado para entreter pessoas-zumbis que não podem passar 10 minutos pensando por si próprio em uma fila (ou lendo, que é muito mais produtivo).

Nos dias de hoje ter um celular é fundamental; a invenção do aparelho em si foi e continua sendo revolucionária. No entanto, sua função principal e útil foi perdida; dando lugar ao um brinquedinho colorido que chama a atenção de adultos e crianças.
Sinceramente, se continuarmos assim nossa sociedade vai se tornar um eterno playground.